domingo, 18 de maio de 2014

Bullying contra professores

Agressões contra professores pela internet


Alguns adolescentes usam a internet para ofender professores. O que parece uma brincadeira pode ser crime. Saiba como evitar o problema ou defender-se em casos extremos.

Ana Rita Martins (novaescola@fvc.org.br)

"Fica livre dele eh a melhor coisa do mundo! Além de surdo eh chato!" 
"Ela eh ridícula." 
"Aquele vesgo do inferno sempre me dá nota baixa." 

As frases acima estão ou estiveram publicadas na internet. No mundo virtual, fica mais fácil tornar públicos imagens e comentários depreciativos, usando para isso blogs, fotologs e sites de relacionamento, de forma anônima ou assumindo a autoria. 

Alguns docentes tentam não se incomodar. O professor de Química George Lopes, de Silvânia, a 80 quilômetros de Goiânia, diz não se importar com a comunidade em que é citado (veja imagem acima), que existe há três anos. Quando foi publicada, ele apenas quis saber o teor dos comentários. Descobriu frases como "Dar uma pedrada nele é o meu sonho" e outras ainda mais ofensivas. "Todo educador é visto como chato pelos jovens. Eu sempre fui rígido, por isso os estudantes criaram essa forma de protesto. Além disso, sei que alguns adolescentes se sentem bem humilhando os outros. Mas não ligo, não me atinge", afirma.

Inconformismo e atitude 

"Perdi a vontade de dar aulas quando li que eles me achavam 'bisonho'. Nem consegui dormir." Sidnei Raimundo de Melo, professor de Matemática em Manaus, que não quis ser fotografado.

Outros, como Sidnei Raimundo de Melo, que leciona Matemática em Manaus, não escondem a indignação. Ele não quis ser fotografado, mas declarou que até pensou em abandonar a carreira ao ler na internet "O professor Raimundo é bisonho". "Fiquei triste, tive insônia e perdi a vontade de trabalhar". Sem o apoio da direção da escola, ele procurou o responsável pela publicação para conscientizá-lo do caráter agressivo de sua atitude. O jovem pediu desculpas e deletou tudo. "É meu dever ajudar a construir valores éticos na sala de aula", afirma Sidnei. Ele estava disposto a prestar uma queixa formal caso a conversa não surtisse efeito: "Os jovens precisam aprender que não dá para desrespeitar impunemente".

Chocada também ficou Maria Aparecida de Carvalho, que dá aulas de Física no Rio de Janeiro, ao descobrir que uma de suas aulas fora gravada em vídeo e estava num site com o título "Maria recebendo um santo". Ela costumava fazer paródias de músicas e adaptar as letras com conteúdos da disciplina para cantá-las com as turmas. Os comentários diziam que ela era ridícula e adorava aparecer. O vídeo foi deletado após a professora avisar que tomaria providências legais.

Esforço conjunto 

Tentar evitar essas manifestações deve ser uma preocupação da escola e dos familiares para que não seja preciso partir para medidas extremas (leia os quadros abaixo). Trata-se de uma situação que exige a reflexão sobre o convívio entre membros da comunidade escolar. Quando as agressões ocorrem, o problema está na escola como um todo. Em uma reunião com todos os educadores, pode-se descobrir se a violência está acontecendo com outras pessoas da equipe para intervir com medidas que restabelecem as noções de respeito - palestras, atividades que estimulem a solidariedade e a discussão do regimento interno da escola.
Se for uma questão pontual, com um professor apenas, é necessário refletir sobre a relação entre o docente e o aluno ou a classe. O jovem que faz esse tipo de coisa normalmente quer expor uma relação com o professor que não está bem. Existem comunidades na internet, por exemplo, que homenageiam os docentes. Então, se o aluno se sente respeitado pelo professor, qual o motivo de agredi-lo? questiona Adriana Ramos, pesquisadora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenadora de pós-graduação da Universidade de Franca (Unifran).

Como se prevenir 

O psicoterapeuta José Augusto Pedra sugere algumas ações para evitar a agressão virtual: Converse com os alunos sobre o tema para que eles não vejam essa atitude como brincadeira. 
Chame os pais para palestras que tratem do assunto. 
Envolva os adolescentes em atividades solidárias para fortalecer o senso humanitário e de cidadania. 
Verifique se o regimento interno da escola prevê sanções a quem pratica atos agressivos. Em caso negativo, discuta com colegas e direção a possibilidade de incluir o tema.


Como se defender 

O advogado Rodrigo Santos, de São Paulo, especializado em crimes virtuais, afirma que as vítimas têm o direito de prestar queixa e pedir sanções penais. Caso o autor das ofensas tenha menos de 16 anos, os pais serão processados por injúria e difamação; se tiver entre 16 e 18 anos, responderá junto com os pais; e, se for maior, assumirá a responsabilidade pelos crimes. Algumas formas de se defender: 

Salve e imprima as páginas dos sites. 
Consiga testemunhas do ocorrido. 
Preste queixa em delegacia comum ou em uma especializada em crimes virtuais, se houver em sua cidade.



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